O mercado italiano está ainda a descobrir Portugal como destino turístico, uma tendência que se reflete também quando são analisados os dados relativos especificamente ao Porto e Norte. Estadias curtas em períodos de férias escolares ou nas pontes junto a feriados podem ser uma boa oportunidade para promover este destino junto de um dos países no top 10 de turistas a nível mundial.
Embora a Itália seja, por excelência, um país recetor de turistas, as viagens em sentido inverso têm crescido e centram-se sobretudo na Europa, particularmente com destino a Espanha, França e Alemanha, o que deixa bons indicadores para a exploração deste mercado por parte dos operadores portugueses.
Em 2024 a Itália posicionou-se como a 8.ª maior economia a nível mundial e foi, também, o 8.º mercado emissor de turistas do mundo. Dados significativos, até pela dimensão do país (59,0 milhões de habitantes), que demonstram o interesse dos italianos pelas viagens ao estrangeiro.
A interligação entre o bom desempenho da economia (4.ª no contexto europeu e a 3.ª na União Europeia) e o aumento do número de turistas italianos é também notória nos locais de origem dos viajantes: é de Milão, cidade do Norte industrializado e mais desenvolvido, que parte uma grande parte das pessoas que viajam de Itália para Portugal.
Em 2024, foram feitas 38,4 milhões de viagens a partir de Itália, o que corresponde a uma quota de 2,4% do total da procura turística mundial, de acordo com os dados da Globaldata. Os números relativos a 2024 mostram um crescimento face ao ano anterior (+13,6%), áquem do notável crescimento de 2022 (+114,8%) e de 2023 (+23,1%), mas superando já os números de 2019, antes da pandemia (+10,6%).
Um dado relevante e promissor para o mercado português é que cerca de 88,1% do total dos fluxos de outbound estão concentrados no continente europeu.
Os gastos totais no estrangeiro por parte dos turistas italianos voltaram a crescer em 2024, face ao ano anterior (+18,4%), o que representa já valores superiores em 29,5% relativamente aos de 2019. Isto acontece na senda de crescimentos sucessivos, como em 2023 (+16,4%). Neste indicador, a Itália ocupa a 9.ª posição mundial e a 5.ª no contexto europeu, com uma quota de 2,2%. Em 2019 o mercado italiano tinha ocupado a 10.ª posição mundial, com uma quota de 2,0%.
O crescimento é a nota dominante da análise do mercado italiano no contexto do turismo nacional.
Em 2024, a Itália foi o 9.º mercado turístico da procura externa para o destino Portugal, no que às dormidas diz respeito, com uma quota de 3,5%, e ocupou o 7º lugar no indicador hóspedes, com uma quota de 4,4%. Em ambos os casos estes valores representaram uma subida em comparação com 2023: 860,3 mil hóspedes (+4,4%) e 1 990,7 mil dormidas (+1,7%).
As receitas turísticas registaram igualmente um aumento de 3,7% relativamente ao ano anterior, o que se traduz num valor de 699,4 milhões de euros, que por sua vez corresponde ao 10º lugar, com uma quota de 2,5%.
Mais significativo ainda é o facto de estes números serem já superiores aos que se verificaram em 2019, com acréscimos de 19,1%, 16,7% e 47,2% nos indicadores de hóspedes, dormidas e receitas turísticas, respetivamente.
Ainda em termos de dormidas, 2024 apresenta-nos um cenário de crescimento nos meses de fevereiro, abril, maio, junho, julho, agosto, setembro, outubro e dezembro, por oposição aos meses de janeiro, março e novembro.
Uma análise mais detalhada ao perfil dos turistas italianos permite traçar algumas preferências e comportamentos importantes para a criação de estratégias de atração para este mercado.
Assim, verifica-se, por exemplo, que uma parte bastante significativa dos turistas italianos (43,1%) elege a Grande Lisboa como destino, mas o Norte, ocupando já o segundo lugar (19,3%) surge à frente de destinos tradicionais, como o Algarve (12,9%) e a Madeira (7,2%), mas também de locais bem mais próximos da Grande Lisboa, como é o caso do Oeste e Vale do Tejo (5,5%) e da Península de Setúbal (1,2%).
Se tivermos em conta que a estada média dos turistas italianos é de 2,3 noites, existe realmente margem para que outros destinos possam ser incluídos nestas viagens de curta duração.
Ainda no que respeita a dormidas, destaca-se a nítida preferência do mercado italiano pela hotelaria (67,5%), seguida pelo alojamento local (24,8%) e os apartamentos turísticos (5,3%). Os hotéis de quatro estrelas recebem quase metade das dormidas (47,9%), surgindo a seguir os de três estrelas (28,1%) e só depois os de cinco estrelas (11,4%).
Há ainda outros dados relativos a 2024 que se destacam na análise ao perfil dos turistas italianos que visitam Portugal:
Os dados relativos aos gastos são igualmente interessantes para traçar o perfil do mercado italiano. Se, por um lado, o número de operações com cartão na rede Multibanco continuou a crescer em 2024, face a 2023 (+8,5%) - de acordo com os dados da SIBS, que não incluem levantamentos -, o valor médio de cada operação tem vindo a descer e em 2024 fixou-se nos 26,4 euros. Só para efeitos de comparação, em 2018 este valor tinha sido de 51,7 euros.
A restauração e similares (45,57%) é responsável por grande parte das despesas, seguindo-se o comércio a retalho (34,87%) e o alojamento (19,56%). Quase metade dos gastos (47%) ocorreram na Grande Lisboa.
Se é indiscutível que cada vez mais italianos viajam para Portugal, também já não subsistem muitas dúvidas quanto ao crescente interesse deste mercado pelo Porto e Norte.
Em 2024, registaram-se 384.514 dormidas de turistas italianos no Porto e Norte, o que corresponde a um crescimento de 6,6%, face ao ano anterior. As outras regiões tiveram comportamentos diversos, com decréscimos na Grande Lisboa (-0,9%), no Alentejo (-4,7%) e no Algarve (-3,2%) e subidas no Centro (+4,1%), no Oeste e Vale do Tejo (+8,6%), na Península de Setúbal (7,3%), nos Açores (+27,7%) e na Madeira (+3,5%).
De salientar ainda que, em 2024, 19% do valor das operações com cartão na rede SIBS se registou no Porto e Norte.
Para a região, o mercado italiano é o sétimo mais importante, enquanto que no país ocupa o 9º posto.
Os indicadores de 2024 mostram uma tendência de subida da importância do Porto e Norte no contexto do turismo italiano. A quota da região em termos de dormidas e operações com cartão tem subido e, a manter-se esta tendência, os próximos anos podem reforçar a apetência por este destino.
A frequência semanal de voos (58 a 60 no verão de 2025), bem como a diversidade de cidades de origem – incluindo Bari, Treviso, Cagliari, Palermo, Turim, Marsala, de onde não partiram voos para Lisboa – indicam que há, para os operadores da região, muitas oportunidades para além do eixo Milão- Roma.
Outro ponto a explorar está relacionado com a sazonalidade e com os feriados e férias escolares. Os dados mostram que os turistas italianos que visitam Portugal viajam sobretudo sozinhos ou com apenas um acompanhante, pelo que há espaço para promover o Porto e Norte como um destino familiar.
Nesse contexto, e embora o calendário escolar possa variar consoante a região, há datas – como o período entre o final de dezembro e o início de janeiro ou o intervalo entre o Dia da Libertação do Fascismo, em 1945, comemorado a 25 de abril, e o Dia do Trabalho, celebrado a 1 de maio –, que podem ser uma oportunidade para, por exemplo, umas férias em família.