Um dos maiores mercados emissores de turistas a nível mundial é, também, uma enorme oportunidade que o Porto e Norte está a aproveitar. Os dados mais recentes mostram que o número de turistas chineses na região continua a crescer, superando os do período anterior à pandemia.
Embora essa recuperação se manifeste também no mercado nacional como um todo, é no Porto e Norte (assim como na Madeira e Algarve), que a tendência de recuperação é mais forte, deixando bons indicadores para o futuro.
Em 2019, a China foi o primeiro emissor de turistas a nível mundial com 154,4 milhões de viagens e uma quota de 7,8% relativamente ao mundo. A pandemia provocou uma queda abrupta no turismo mundial e os dados relativos ao mercado chinês refletiram essa tendência, que se manteve em 2021. Em 2022 já se verificou um crescimento significativo de 25,4%, que foi amplamente reforçado em 2023, com um aumento expressivo de 627,1%, mas, ainda assim, com valores inferiores aos de 2019.
Em 2023, a China teve uma quota de 7,9% no turismo mundial, mas o número de viagens (67,4 milhões) valeu-lhe apenas o 4.º lugar entre os mercados emissores. Os principais destinos (83,7%) dos turistas chineses situam-se na região da Ásia: Hong Kong, Macau, Tailândia, Japão e Coreia do Sul ocupam os cinco primeiros lugares. A Alemanha era em 2023 o único país europeu no top 10, sendo que Portugal ocupou o 29.º lugar (quota de 0,2% e 12º lugar na Europa).
Em termos de gastos anuais dos turistas chineses, a tendência é semelhante. Os valores verificados em 2033 (31,5 mil milhões USD) representaram um aumento bastante expressivo em relação a 2022, mas, ainda assim, abaixo do ano anterior à pandemia.
Em 2023 a China foi o 16.º mercado turístico para o destino Portugal, com uma quota de 1,0% no que respeita a hóspedes e 21.º no indicador de dormidas (0,6%): 187,5 mil hóspedes (crescimento de 175,5% em relação ao ano anterior) geraram 349,4 mil dormidas (mais 123,4% do que em 2022).
Variação do número de hóspedes chineses em Portugal, no período 2018-2023. Fonte: INE (2022 dados revistos) Banco de Portugal (dados revistos em 20.08.2022)
Variação do número de dormidas de hóspedes chineses em Portugal, no período 2018-2023. Fonte: INE (2022 dados revistos) Banco de Portugal (dados revistos em 20.08.2022)
O mercado chinês é o 22.º no que respeita a receitas turísticas, com uma quota de 0,4%, equivalente a 112 milhões de euros. Números que, embora acima dos registados em 2022, ficam ainda longe dos que se verificaram em 2019 e 2018.
Variação das receitas turísticas originadas por hóspedes chineses em Portugal, no período 2018-2023. Fonte: INE (2022 dados revistos) Banco de Portugal (dados revistos em 20.08.2022)
Se analisarmos os dados relativos aos lugares por companhias aéreas e a passageiros desembarcados, verifica-se que ambos os indicadores tiveram, em 2023, o melhor ano desde 2018.
O ano de 2023 foi também de crescimento em termos do número de operações em cartão na rede multibanco, com mais de 350.000. No entanto, o valor médio por operação (72,7€) é bastante inferior ao que se verificava em 2018 (207,7€). Cerca de ¾ dos gastos dizem respeito a compras no comércio a retalho, ficando a restauração e similares (16,89%) e o alojamento (6,83%) bastante abaixo.
Ainda assim, em termos de tipologia de alojamento, predominam as dormidas na hotelaria (82,9%), ocupando o alojamento local o segundo lugar, com apenas 12,3%. Os hotéis de 5 estrelas representaram uma quota de 23,0%, os de 4 estrelas 54,5% e os de 3 estrelas 17,2%.
Os gráficos que se seguem permitem traçar o perfil do turista chinês:
40,3% viajam sozinhos e 25% com outra pessoa:
Fonte: ForwardKeys
27,7% das viagens duram entre 6 a 8 noites; 23% dos turistas ficam em Portugal 9 a 13 noites:
Fonte: ForwardKeys
67,8% viajam em lazer; as viagens de grupo ocupam o segundo lugar (14,6%), com uma ligeira diferença em relação às de negócios (13,7%):
Fonte: ForwardKeys
As reservas são feitas com pouca antecedência: 30,1% são efetuadas 5 a 14 dias antes e 24% entre 15 a 29 dias; apenas 3% dos turistas reservam com uma antecipação superior a 120 dias:
Fonte: ForwardKeys
Há ainda outros dados a considerar na abordagem a este mercado. A maioria dos viajantes provém de cidades Tier 1 e novas Tier 1, ou seja, locais economicamente mais desenvolvidos. São geralmente Gen-Z e Millennials, com um nível de escolaridade alto e um budget elevado – resultante de poupanças para viagens à Europa, que é encarado como um sinónimo de sofisticação, irreverência, luxo, prestígio e estatuto. Shopping, Lifestyle, Cultura e Novas experiências são os principais interesses destes turistas.
Os indicadores relativos aos primeiros sete meses de 2024 apontam para que a China tivesse ocupado o 17.º lugar em termos da procura externa para o destino Portugal.
A quota de dormidas aumentou de 0,6% para 0,9% e a de hóspedes foi de 1,5% (1% no ano anterior), o que equivale ao 14.º lugar neste indicador. Estes dados correspondem a 296,7 mil dormidas (um crescimento de 68,6% em relação ao mesmo período do ano anterior) e a 166,7 mil hóspedes, mais 86,2%, face ao período homólogo de 2023.
A análise dos indicadores relativos a compras e levantamentos efetuados na rede multibanco revela uma subida em comparação com 2023 (313.596 contra 177.002), um valor bastante superior ao que se verificava em 2019. O valor médio da operação, contudo, mantém a tendência de queda que já se notava em 2023.
Tal como se tinha verificado em 2023, o setor do Comércio a retalho regista o valor de consumo mais elevado (quota 73,8%. O valor gasto na restauração (20,3%) tende a subir.
Embora a Grande Lisboa seja, ainda, o destino mais escolhido pelos turistas chineses, os dados mais recentes são bastante interessantes para o Porto e Norte.
Tal como aconteceu em todas as regiões, o número de hóspedes chineses registou uma descida extremamente acentuada entre 2019 e 2020, sendo que a recuperação, ainda que lenta, só teve início em 2022.
O que se verifica é que a retoma do turismo com origem na China parece estar a ser mais rápida no Porto e Norte. Os dados já disponíveis relativamente a 2024 indicam que a região foi visitada por 60.559 turistas, um número bastante próximo dos 60.816 verificados em 2019.
Na maioria das outras regiões, e na análise dos valores para a totalidade do país, verifica-se que a recuperação, embora exista, não permitiu ainda atingir os números pré-pandemia. Na região da Grande Lisboa, por exemplo, o número de hóspedes de 2019 (252.389) está ainda bastante distante dos 158.917 de 2024, representando mais do dobro do que se verificou em 2023 (105.073 hóspedes).
Se analisarmos os dados relativos às dormidas (gráfico abaixo), verificamos que essa tendência se confirma: em 2019 foram registadas 96.549 dormidas na região, um número superado em 2024, com 98.650 dormidas.
Variação do número de dormidas de hóspedes chineses no Porto e Norte, no período 2018-2024. Fonte: INE – Travel BI (2024)
Mais uma vez, a retoma do turismo chinês no Porto e Norte é mais expressiva do que a nível nacional (605.999 em 2019 e 468.851 em 2024) e claramente superior à da região mais visitada –A.M. Lisboa – (406. 590 em 2019 e 293. 665 em 2024). Em 2024 o Porto e Norte representou 20,6% das dormidas de turistas chineses em Portugal.
Variação do número de dormidas de hóspedes chineses nas diversas regiões em Portugal, no período 2018-2024. Fonte: INE – Travel BI (2024)
Em 2023, o Porto e Norte foi também responsável por 9,5% das operações com cartão na rede multibanco, valor que aumentou para 13,7% em 2024.
O potencial de crescimento do Porto e Norte como destino do turismo proveniente do mercado chinês deve ser enquadrado num contexto de competição com Espanha, que promove de forma intensa destinos massificados.
O destino Portugal é, muitas vezes, promovido em itinerários conjuntos com Espanha e, por vezes, também com Marrocos. Embora estes itinerários tenham habitualmente 10 noites ou mais, a maioria da oferta contempla apenas 1 ou 2 noites de alojamento em Portugal, geralmente em Lisboa.
Há, ainda, algumas dificuldades identificadas pelos operadores chineses que pretendem montar operação para Portugal: a demora na resposta, a pouca capacitação ou preparação no acolhimento de hóspedes chineses, os preços mais elevados (devido à conectividade aérea), a falta de guias-intérpretes oficiais proficientes em mandarim no destino e um sistema de comissões nas vendas pouco apelativo comparativamente com Espanha são alguns exemplos.
No que respeita às oportunidades para o Porto e Norte, há a destacar alguns aspetos do perfil dos turistas chineses que parecem ir ao encontro da oferta da região. Assim, Cultura e património Unesco, Luxo e Compras e Gastronomia e Vinhos devem ser os pontos de atração a explorar, destacando-se também o Wellness, Natureza e Desporto, bem como nichos como destinos literários, casamentos e luas de mel, geoturismo ou náutico.