Na zona “Empowering Lives” da Expo Mundial de Osaka 2025, ergue-se uma estrutura que mais parece dançar com o vento do Pacífico: é o Pavilhão de Portugal, concebido pelo prestigiado arquiteto japonês Kengo Kuma. À primeira vista, a fachada impressiona — um corpo ondulante feito de quase 10 mil cordas e redes recicladas recolhidas do oceano, que flutuam e vibram, dando vida a uma imagem poética do mar em constante movimento. É arquitetura com alma, mas também com consciência: toda a estrutura é uma declaração de princípios sobre sustentabilidade, circularidade e ligação profunda ao mar.
O arquiteto Kengo Kuma e a Comissária-Geral do Pavilhão de Portugal, Joana Gomes Cardoso. © AICEP e Pavilhão de Portugal
Com cerca de 1800 m², o pavilhão português é simultaneamente um gesto artístico e uma casa de acolhimento, construída para contar a história de um país moldado pelo oceano. O seu interior distribui-se por zonas de exposição imersiva, espaços de convívio, loja, restaurante e áreas para eventos. Tudo ali converge para uma experiência que convida à partilha: de conhecimento, de sabores, de histórias e de futuro.
O design interior, desenvolvido também por Kuma em colaboração com a marca portuguesa Antarte, é feito à medida do conceito: mesas, sofás e bancos de linhas orgânicas, produzidos com madeira de freixo e cortiça, mostram que a tradição e a inovação caminham lado a lado. Cada peça foi fabricada em Portugal com acabamentos artesanais, transportando para Osaka a identidade estética e o saber nacionais.

© AICEP e Pavilhão de Portugal
Mas é no coração gastronómico do pavilhão — o restaurante “Mar de Portugal” — que a experiência sensorial ganha densidade e sabor. Aqui, a mesa é palco e linguagem. Com uma proposta baseada nos “petiscos atlânticos”, o restaurante aposta num conceito de partilha, leveza e autenticidade, ideal para uma clientela internacional ávida de experiências novas, mas genuínas. O ambiente do espaço combina o conforto do interior com a frescura de uma esplanada voltada para os percursos da Expo, permitindo refeições descontraídas num cenário de grande beleza.
O menu, cuidadosamente elaborado sob a liderança do chef português José Sousa Botelho, cruza ingredientes emblemáticos da costa portuguesa com técnicas respeitosas da tradição. O polvo à lagareiro, com o seu sabor intenso e textura delicada, é o prato mais procurado — e não por acaso: é simultaneamente familiar para os japoneses e carregado de sentido para os portugueses. Juntam-se-lhe clássicos como o bacalhau, as amêijoas à Bulhão Pato, o arroz de marisco ou os peixinhos da horta, uma fritura ancestral portuguesa que inspirou, há séculos, o famoso “tempura” japonês.
Nos doces, a estrela é inevitável: o pastel de nata, servido quente e cremoso, conquista os visitantes a cada fornada. Para os mais apressados, o restaurante criou formatos como a Nata Box — uma embalagem que permite levar a iguaria para casa ou para o recinto — e a Lunch Box, com combinações leves de petiscos para consumir ao ar livre.
A carta de vinhos é, naturalmente, uma ode à diversidade vinícola nacional, com rótulos de norte a sul — do Douro ao Alentejo, da Bairrada ao Tejo — e sessões de degustação comentadas. O objetivo é claro: fazer do restaurante um ponto de encontro entre culturas, usando o paladar como linguagem comum.
O restaurante não vive isolado: faz parte de uma proposta mais ampla de promoção da gastronomia portuguesa como património imaterial, que inclui showcookings, eventos de networking e experiências sensoriais integradas com a agenda oficial da Expo. É, no fundo, um “salão de convívio azul” onde o mar serve de metáfora para tudo o que liga Portugal ao Japão e ao mundo.
A mascote UMI — o cavalo-marinho cujo nome significa “oceano” em japonês — circula pelo pavilhão convidando à reflexão sobre o futuro dos oceanos, evocando a longa história das relações entre Portugal e o Japão, iniciada em 1543.
A relação entre os dois países é longa e rica. Portugal foi o primeiro país europeu a chegar ao Japão, em 1543, e essa ligação deixou marcas indeléveis na língua e na cultura japonesa. Palavras como pão, botão, copo, álcool e caramelo, para dar apenas alguns exemplos, têm origem portuguesa. E também na alimentação, na religião e na tecnologia os portugueses deixaram influência: a tempura, o pão cozido no forno, o uso de instrumentos musicais ocidentais ou até a introdução da arma de fogo.

© AICEP e Pavilhão de Portugal / Fernando Guerra
É também este o espírito que anima todo o pavilhão: um convite ao diálogo azul — expressão escolhida como tema nacional —, que une ciência, arte, comércio e afeto numa travessia simbólica do oceano. Um gesto de continuidade e reencontro com o Japão, onde os portugueses chegaram pela primeira vez há quase 500 anos, e onde continuam hoje a semear pontes feitas de cultura, criatividade e futuro.
O Pavilhão de Portugal na Expo Osaka 2025 não é apenas um edifício. É uma presença viva, vibrante e sofisticada, que mostra ao mundo como um país pode ser grande em ambição, sabor e talento.
A Comissária-Geral do Pavilhão, Joana Gomes Cardoso, sublinha que “o compromisso de Portugal com a preservação dos oceanos é também o nosso contributo para um futuro sustentável”, enquanto Madalena Oliveira e Silva, presidente da AICEP, garante que o impacto desta participação vai além da visibilidade institucional: “É um evento com impacto real para a marca Portugal, para as empresas e para a diversificação das exportações, num mercado sofisticado como o japonês”.
Organizada pela AICEP e co-coordenada com o Turismo de Portugal, a participação portuguesa reúne mais de 150 entidades — entre empresas, universidades, fundações, associações e autarquias — que contribuem para uma programação rica e diversa.
E, pela primeira vez, a participação numa exposição mundial é acompanhada por um programa-espelho em Portugal, permitindo que a Expo Osaka seja sentida também no território nacional. Este programa visa aproximar os cidadãos portugueses do evento e dar a conhecer, em Portugal, o Japão e os laços históricos que unem os dois países.
O Pavilhão de Portugal na Expo Osaka já recebeu mais de um milhão de visitantes, anunciou a AICEP. “Ultrapassar a barreira do milhão de visitantes quando estamos ainda a meio da participação, é reflexo do crescente interesse global na mensagem e na visão que Portugal tem vindo a apresentar em Osaka”, sublinhou Joana Gomes Cardoso, comissária-geral do Pavilhão de Portugal. Estes números, segundo a responsável, "representam cerca de 10% do público global da Expo, portanto, um em cada dez visitantes da Expo visita o Pavilhão de Portugal".
O visitante um milhão, uma criança, recebeu uma t-shirt da seleção nacional de futebol, com o número de Cristiano Ronaldo.
Em julho, o Pavilhão de Portugal recebeu 15 mil visitantes num só dia. A maioria dos visitantes é de origem japonesa, mas o espaço tem recebido muitos participantes internacionais e também portugueses.
No coração da Exposição Universal de Osaka, a delicadeza e a mestria da Filigrana de Portugal ganham nova projeção internacional. Esta arte ancestral, que transforma finíssimos fios de ouro e prata em rendilhados de extraordinária beleza, viajou até ao Japão com um propósito que vai muito além da exibição: afirmar-se como Património Cultural Imaterial da Humanidade, num passo decisivo rumo ao reconhecimento da UNESCO.
A Flor de Filigrana foi criada em exclusivo para a Expo Osaka. © AICEP e Pavilhão de Portugal
A participação portuguesa nesta ação foi promovida pela Câmara Municipal de Gondomar, organizada pelo Turismo do Porto e Norte de Portugal, em articulação com a AICEP, num momento de diplomacia cultural de elevado simbolismo. Houve também o apoio logístico da Turkish Airlines, o parceiro de transporte nesta ação. Durante dois dias, a “Filigrana de Portugal” ocupou lugar de honra no Pavilhão de Portugal — a 30 de junho e 1 de julho — apresentando ao mundo a excelência de uma técnica que une arte, identidade e memória.

Comitiva portuguesa presente na ação. © AICEP e Pavilhão de Portugal
A iniciativa está diretamente ligada ao processo de candidatura desta tradição à UNESCO, que resulta de uma colaboração institucional entre os municípios de Gondomar e da Póvoa de Lanhoso — os dois principais centros de produção filigraneira do país. A certificação oficial desta técnica em 2018 e a sua entrada no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial em 2023 foram marcos importantes, agora reforçados por esta presença internacional.
Com curadoria centrada na excelência artesanal, a mostra portuguesa em Osaka destacou-se com a exposição “Oceano de Filigrana”, onde brilhou o emblemático “Vestido em Filigrana”, uma peça singular criada pela estilista Micaela Oliveira em colaboração com o artesão Arlindo Moura — já apresentada na Expo Dubai e agora relançada com novo impacto no Japão. Mas a grande estreia, criada especificamente para este evento, deu-se com a “Flor em Filigrana”, uma peça escultórica de grandes dimensões concebida pela JSoares Jewelry, que impressionou pela sua escala e detalhe minucioso.

© AICEP e Pavilhão de Portugal
Esta ação não se ficou apenas pela contemplação: o público teve também oportunidade de assistir a demonstrações ao vivo por mestres artesãos certificados, que revelaram a complexidade da técnica e convidaram os visitantes a experimentar, com as próprias mãos, os gestos que atravessaram séculos.
O público japonês revelou, aliás, um enorme interesse pelas demonstrações ao vivo, interagindo com entusiasmo — especialmente as crianças —, e isto apesar das evidentes barreiras linguísticas. Esta componente de “ver fazer”, tão valorizada nos mercados asiáticos, revelou-se um trunfo claro da presença portuguesa.

© AICEP e Pavilhão de Portugal
A par da mostra, o Turismo de Portugal promoveu um momento cultural com assinatura nacional: o tradicional “Chá das 5”, aqui reinterpretado com um toque de luxo e identidade. Em destaque, o exclusivo “Filigrana D’Ouro Gourmet”, um chocolate negro com 71% de cacau e folhas de ouro comestível de 23 quilates, criado em Gondomar e moldado em forma de Coração de Filigrana. Um doce que é, ao mesmo tempo, obra de arte e símbolo de tradição reinventada. A acompanhar, foi servido o requintado “Pipa Chá”, um chá português do Norte, produzido a partir de folhas japonesas e estagiado durante seis meses em pipas de vinho do Porto — um elo de ligação entre dois mundos, duas histórias, dois patrimónios.
Para Luís Filipe Araújo, presidente da Câmara Municipal de Gondomar, esta ação “é muito mais do que uma simples exibição de jóias: é uma aposta estratégica num palco global onde queremos afirmar a nossa identidade cultural, reforçar a candidatura à UNESCO e apresentar ao mundo a Rota da Filigrana, promovendo o turismo sustentável e o artesanato de excelência”.
Na mesma linha, Luís Pedro Martins, presidente do Turismo do Porto e Norte de Portugal, sublinha que “a presença em Osaka é um momento-chave para projetarmos a Filigrana de Portugal como símbolo da nossa identidade e diferenciação no mundo. É a nossa forma de contar a história de um território através das mãos dos seus artesãos.”
"A participação de Portugal na Expo 2025 Osaka tem sido uma oportunidade extraordinária para reforçar a notoriedade de Portugal junto do público japonês e internacional. A crescente curiosidade pelo nosso Pavilhão - estamos a meio da Expo e já atingimos um milhão de visitantes - revela o forte potencial de cooperação futura e de criação de novas parcerias em que as regiões como o Porto e Norte terão, com certeza, um papel a desempenhar. Tradições como a filigrana são muito valorizadas pelos japoneses e foram um verdadeiro sucesso, ganhando nova vida no encontro entre culturas", sublinhou Joana Gomes Cardoso, comissária-geral de Portugal para a Expo 2025 Osaka.
A jornada da filigrana em terras nipónicas culminou a 3 de julho, com a receção oficial da comitiva na Embaixada de Portugal em Tóquio, onde foi oferecida uma peça exclusiva à Casa de Portugal no Japão — gesto que reforça os laços culturais entre os dois países e dá continuidade a uma história de ligação que remonta ao século XVI.
A ação mereceu a cobertura da imprensa, com destaque para a RTP, que realizou uma peça sobre esta iniciativa em Osaka, onde ficou bem patente o potencial da filigrana no destino asiático.
Com esta presença na Expo Osaka 2025, a Filigrana de Portugal afirma-se como símbolo de um património vivo, forjado no detalhe e na paciência, transmitido de geração em geração. Mais do que uma arte decorativa, ela representa a expressão de uma identidade coletiva — feita à mão, com tempo, com alma.
A região do Porto e Norte de Portugal tem-se afirmado como um dos motores da presença portuguesa na Expo Osaka. Entre abril e julho, várias instituições, artistas e projetos da região dinamizaram ações de grande impacto no pavilhão nacional.
A cidade do Porto, em parceria com o Coliseu Porto Ageas e o Batalha Centro de Cinema, protagonizou uma intensa programação cultural com música, cinema, literatura e gastronomia. O recital de piano de António Pinho Vargas e a performance de Alexandre Soares com poemas haiku foram momentos de especial ligação artística entre Portugal e o Japão. O filme “Na Faina do Argaço”, de Mariana Vilanova, esgotou sessões e emocionou o público japonês com a sua delicadeza visual e narrativa sobre práticas costeiras do Norte.
No Dia de Portugal, 10 de junho, o pavilhão recebeu a instalação poética "Oceano de Poesia", onde se expuseram "Poemas Verticais", numa inspiração da tradição japonesa de usar poemas como elementos decorativos. Foram exibidas fotografias de todo o país, com excertos de vários autores portugueses, como é o caso de Camilo Castelo Branco e Eça de Queiróz, nomes indelevelmente ligados ao Norte de Portugal. Esta iniciativa do Turismo de Portugal tem como objetivo promover o turismo literário e a descoberta do país através dos seus autores.
A gastronomia voltou a estar em foco com a colaboração entre o chef portuense Vasco Coelho Santos e o chef japonês Koji Azuma num restaurante estrelado de Osaka.
O chef Vasco Coelho Santos em Osaka. © AICEP e Pavilhão de Portugal
No campo do ensino e da investigação, as Universidades do Porto e do Minho marcaram presença com projetos ligados à robótica marinha e à bioeconomia circular. Estas ações integraram o programa “Study & Research in Portugal” e revelam o Norte como território de inovação com impacto global. A exposição "My Plan for Japan", em colaboração com o MUDE e o Museu Soares dos Reis, resgatou a memória da participação portuguesa na Expo Osaka de 1970. A arquiteta e ilustradora Ana Aragão destacou-se com desenhos que reinterpretam os encontros históricos entre Portugal e o Japão.
Em paralelo, os Caretos de Podence — figura icónica do Entrudo transmontano — estiveram também em Osaka, apresentando-se como símbolo vivo de uma tradição reconhecida pela UNESCO e que continua a encantar o mundo pela sua irreverência e ancestralidade.
© AICEP e Pavilhão de Portugal
A representação do Porto e Norte de Portugal na Expo Mundial de Osaka é, assim, plural e profunda. Cruza saberes antigos com criatividade contemporânea, tradição com ciência, gastronomia com tecnologia, memória com futuro. Num mundo em busca de pontes, Portugal — e em particular o Norte — mostra que a cultura, a arte e a inovação são os melhores instrumentos para dialogar com o mundo.
O Turismo do Porto e Norte de Portugal regressa em setembro à Expo Osaka para mais iniciativas no evento. Uma delas estará ligada às áreas do design e artes visuais. Criada pelo OCubo, com curadoria de Serralves e coordenação do Porto e Norte de Portugal, o Pavilhão de Portugal terá uma instalação imersiva, com o objetivo de valorizar três regiões de Portugal - Porto e Norte, Centro e Alentejo. Esta instalação combina video mapping projetado numa parede, com uma escultura luminosa que ocupa e transforma o espaço expositivo de forma impactante. O resultado será uma experiência sensorial envolvente, onde o público é transportado pelas emoções e identidades das três regiões.
Depois da presença da comitiva portuguesa na Expo Osaka, segue-se um Roadshow no Japão e na Coreia do Sul, organizado pelo Turismo de Portugal, e que conta com a participação do Porto e Norte, do Centro e do Alentejo.
O Norte de Portugal é a segunda região mais visitada por turistas japoneses no país. Entre janeiro e novembro de 2024, registaram-se 37,335 dormidas de visitantes provenientes do Japão, o que coloca este mercado na 26.ª posição no ranking internacional da região, com uma quota de 0,4%.
A tendência de crescimento entre 2023 e 2024 é clara, tanto no número de hóspedes como nas dormidas, revelando um progresso consistente. Este dinamismo reflete o impacto das ações de promoção desenvolvidas para este mercado, especialmente se considerarmos que não existe ligação aérea direta entre o Japão e o Porto.
A região apresenta uma forte afinidade com as preferências dos viajantes japoneses, que procuram experiências autênticas e diferenciadoras, como a gastronomia local, a cultura, as compras e o património.
A forte presença portuguesa na Expo Mundial de Osaka representa não apenas uma afirmação cultural e económica, mas também uma oportunidade estratégica para a captação de turistas japoneses e asiáticos. Através das ações de diplomacia cultural, das experiências gastronómicas, da promoção de saberes ancestrais e de inovações tecnológicas, Portugal — e em especial o Porto e Norte — posiciona-se como um destino autêntico, diversificado e acolhedor, que vai de encontro às expectativas do perfil de turista japonês. Esta visibilidade reforçada, associada à curiosidade e ao fascínio nipónico pela cultura europeia, poderá traduzir-se num aumento significativo do interesse por visitar o nosso país, abrindo novas pontes entre o Japão e Portugal com impactos duradouros no turismo e na cooperação bilateral.