O Porto afirmou-se como um dos destinos mais relevantes da Meetings Industry mundial ao acolher o 64.º Congresso da International Congress and Convention Association (ICCA), que reuniu 1.514 delegados de 81 países e transformou a cidade e a região no epicentro global da reflexão, inovação e colaboração desta indústria.
A edição deste ano do Congresso da ICCA, que decorreu de 9 a 12 de novembro, colocou o Porto no centro de um debate internacional sobre sustentabilidade, diversidade, criatividade, inclusão, tecnologia e colaboração, pilares que estão a moldar o futuro dos eventos de negócios, e o papel transformador que estes têm nas economias e nas comunidades.
O Porto inaugurou um formato multivenue inédito, distribuído por nove espaços nos municípios do Porto, Vila Nova de Gaia e Matosinhos. A Alfândega do Porto foi o principal ponto de reunião, mas os profissionais da Meetings Industry tiveram a oportunidade de conhecer outros espaços. O Terminal de Cruzeiros do Porto de Leixões, o CEiiA, as Caves Ferreira e o WOW acolheram as sessões de trabalho dedicadas aos temas: impacto e sustentabilidade; liderança e resiliência; modelos de negócio com propósito; inovação e tecnologia; e criatividade.
Sessão paralela no CEiiA
A Super Bock Arena foi o palco do Jantar de Gala, enquanto a Dragão Arena foi o recinto dos jogos entre os Capítulos da ICCA. A sessão de abertura e as primeiras apresentações decorreram no Coliseu do Porto e a receção de boas-vindas foi feita no Palácio da Bolsa.
Os jogos entre Capítulos aconteceram na Dragão Arena
A cidade tornou-se ela própria uma extensão do Congresso: os delegados cruzaram zonas históricas, equipamentos culturais e centros de inovação, participando numa experiência verdadeiramente imersiva e urbana. Este modelo deu ao Porto uma visibilidade global sem precedentes, mostrando ao mundo a capacidade logística, criativa e organizativa da região.
“Foi uma ideia que nós agarrámos desde o primeiro minuto, apesar de nos trazer algumas complicações em termos de orçamento, que estava previsto para que tudo acontecesse num só sítio”, explicou Luís Pedro Martins, presidente do Turismo do Porto e Norte.
Luís Pedro Martins, presidente do Turismo do Porto e Norte de Portugal
Não sendo possível em toda a região, o evento realizou-se no Porto, em Matosinhos e em Vila Nova de Gaia. “Fazê-lo pela primeira vez, dentro de uma instituição como a ICCA, é algo que acho que ficará para sempre na memória de todos aqueles que por aqui passaram”, acrescentou.
Marta Gomes, presidente da ICCA, destacou esta “experiência única” num Congresso da associação. “Foi uma grande aventura. Foi algo que nunca fizemos antes e não acho que muitas organizações já tenham tentado algo tão ambicioso quanto este projeto de realizar um Congresso não num centro de congressos, mas espalhado por toda a cidade, em locais históricos e modernos. Para nós, isso foi realmente possível graças à colaboração com o Turismo do Porto e Norte, que trabalhou muito com todos os seus parceiros para que isso acontecesse”, referiu.
Marta Gomes, presidente da ICCA, ladeada por Luís Pedro Martins e Senthil Gopinath, CEO da Associação
De acordo com Marta Gomes, os participantes “adoraram o conceito, ficaram encantados com a cidade, e foi uma oportunidade para não só descobrirem o conteúdo, mas para poderem visitar também locais que estão relacionados com esse conteúdo”, podendo sentir o ritmo da cidade e ter uma experiência autêntica. “Isso foi realmente interessante e inovador.”
A 29 de julho de 2024, a ICCA anunciou que o Porto seria a cidade anfitriã do seu 64.º Congresso mundial. A candidatura conjunta do Convention Bureau do Porto e Norte de Portugal e do Turismo de Portugal – apresentada em colaboração com a Câmara Municipal do Porto, a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte, o Centro de Congressos da Alfândega do Porto e o Capítulo Ibérico da ICCA – foi bem-sucedida, marcando o regresso do Congresso da ICCA à Europa, depois das edições em Banguecoque, na Tailândia (2023), e em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos (2024).
“O Porto fez uma candidatura extraordinária, que apresentou com grande paixão e uma verdadeira vontade de receber o Congresso aqui em Portugal. E foi óbvio na candidatura, naquilo que eles exprimiram, que não era só o Porto que estava por trás da candidatura, mas todo o Norte, todo o Portugal, todo o Capítulo Ibérico; e isso foi uma mensagem forte que o Board da ICCA apreciou e levou à escolha do Porto para o Congresso deste ano”, recordou Marta Gomes.
Por seu lado, Luís Pedro Martins frisou que esta foi “uma aventura que não foi fácil conquistar, porque estamos no seio da ICCA, uma organização mundial presente em todos os cinco continentes, e com muitos candidatos a querer, obviamente, receber este Congresso”. “Depois de passarmos várias fases, chegámos a uma pool final, onde estávamos com outros países com muita força, como a Coreia do Sul ou o Panamá, mas, em boa verdade, tivemos argumentos que foram suficientes para convencer o Board da ICCA a realizar [o Congresso] aqui em Portugal e numa cidade que não é a cidade capital”, avança.
Ao Porto não faltam argumentos de qualidade para esta conquista. Carlos Abade, presidente do Turismo de Portugal, destacou alguns: as “infraestruturas de uma excecional qualidade, de relevância do ponto de vista cultural e histórico magnífica”; a “cooperação muito próxima entre as entidades nacionais, nomeadamente o Turismo de Portugal, regionais, o Turismo do Porto e Norte de Portugal, e locais”; a “capacidade que esta região tem do ponto de vista de disponibilização de venues, e com uma enorme diversidade”; além da “localização privilegiada, hospitalidade, gastronomia e segurança”. “Atributos que fazem do Porto, do Norte e de Portugal um sítio excelente para realizar grandes eventos como este”, defendeu.
Carlos Abade, presidente do Turismo de Portugal, com Senthil Gopinath e Luís Pedro Martins
Esta conquista estratégica consolidou o Grande Porto como um destino de referência para congressos, conferências e reuniões. No ranking da ICCA, o Porto ocupa o 34º (a nível mundial) e o 22º (na Europa) lugares entre as cidades que acolhem mais congressos, de acordo com os critérios da ICCA, sendo a segunda cidade portuguesa mais atrativa para o turismo de negócios.
As sessões de conhecimento, distribuídas por vários hubs temáticos, reforçaram o papel do Porto como laboratório de ideias para os grandes desafios atuais.
Sessão plenária no Centro de Congressos da Alfândega do Porto
Ao longo do Congresso abordou-se o futuro das cidades, a necessidade de políticas integradas e o conceito de ‘economia de destino’, que une turismo, eventos, investimento, educação e mobilidade num modelo mais sustentável e competitivo; o papel dos eventos de negócios na transformação global; a criatividade como vantagem competitiva, a sustentabilidade e impacto real nos destinos; a importância de uma liderança adaptativa, instituições resilientes e modelos de negócio com propósito; e a tecnologia e a inovação que fazem, inevitavelmente, parte do futuro da indústria.
O Turismo do Porto e Norte apresentou em antestreia a sua mais recente campanha internacional: ‘The Big Trend, by Ofélia de Souza’, marcando o regresso da icónica embaixadora do turismo de negócios do Porto e Norte.
Com uma narrativa que combina humor, elegância e o espírito empreendedor da região, Ofélia de Souza deixa uma importante mensagem: ‘as tendências vão e vêm, mas as pessoas e as relações que construímos são o que realmente fica’.
“Com ‘The Big Trend’, queremos reforçar a autenticidade que distingue o Porto e Norte no panorama internacional. Esta é uma campanha que celebra pessoas, criatividade e relações genuínas”, afirmou Luís Pedro Martins, durante o lançamento da campanha internacional.
Também o Visit Portugal aproveitou o Congresso da ICCA para reforçar a posição do país enquanto destino MICE com o lançamento da nova campanha ‘Portugal Means Business’, que pretende mostrar um país onde é possível equilibrar trabalho e lazer, e um destino preparado para receber eventos de todas as dimensões e ao longo de todo o ano.
Ambas as campanhas reforçam o posicionamento do Porto, da região e de Portugal como destinos competitivos e alinhados com o futuro da Meetings Industry.
Os eventos contribuem para fomentar o dinamismo económico nos territórios que os acolhem e podem deixar um legado positivo. Entre os momentos mais significativos da edição deste ano do Congresso da ICCA esteve a apresentação do Porto & North Forever Pact, um compromisso que espelha a visão da região para o futuro do turismo de negócios, com princípios orientados para a sustentabilidade, inovação, inclusão, criatividade e participação cívica.
O pacto é concebido como um legado partilhado com a comunidade global da Meetings Industry, um convite à cocriação da mudança e à construção de impactos positivos e duradouros nos destinos. Uma abordagem que demonstra que o Porto não se limita a receber eventos, mas também quer deixar um legado positivo e, através da partilha, moldar o futuro desta indústria.
Luís Pedro Martins vê este pacto como um compromisso de mais inovação e sustentabilidade, mas também de inclusão social e de participação dos cidadãos. “Trazer este terceiro setor para dentro desta indústria, acho que é a grande marca. Esperemos que, a partir daqui, todos queiram avaliar os seus eventos não apenas ao nível económico, mas também ao nível do impacto que deixou no território”, afirma, desafiando os delegados a levarem para os seus destinos o Porto & North Forever Pact.
Na visão de Geneviève Leclerc, cofundadora e CEO da Meet4Impact, parceira na criação deste pacto, o Porto é um dos destinos que olham com seriedade para a questão do impacto e do legado dos eventos e levou a um nível diferente o envolvimento da comunidade e os resultados para a comunidade. “Muitas das outras cidades têm estratégias setoriais, baseadas nas profissões da indústria que acolhem, enquanto que aqui podemos realmente sentir o ADN do lugar, através da forma como a ATPN tem influenciado esta estratégia”, referiu.
Luís Pedro Martins, Geneviève Leclerc, da Meet4Impact, Pedro Machado, secretário de Estado do Turismo, e Lídia Monteiro, do Turismo de Portugal
“São as pessoas em primeiro lugar, é a comunidade em primeiro lugar. Não há muito em torno de impactos setoriais e económicos. As prioridades são realmente a inclusão da comunidade, o bem-estar, a inovação, o talento, a especialização. Acho que é isso que os diferencia neste caminho”, sustentou ainda Geneviève Leclerc.
O impacto e a sustentabilidade assumiram uma forma concreta: nos espaços, nas práticas e nas experiências dos delegados. O Porto acolheu um Congresso onde cada pormenor – da mobilidade sustentável às medidas de bem-estar – reflete um compromisso consciente com as pessoas e com o planeta. Meditações matinais, espaços de bem-estar com ambientes de baixo estímulo, lanyards reciclados (criados pela Associação CAIS), redução de desperdício alimentar, foram medidas implementadas.
Uma parceria com a STCP permitiu fazer alguns dos transferes do Congresso em autocarros elétricos
A sustentabilidade é um pilar fundamental e os resultados alcançados durante o Congresso da ICCA ilustram o impacto desta estratégia: 1.500 refeições recuperadas foram direcionadas para comunidades carenciadas – foram doados 731 kg de alimentos e 385 kg de alimentos transformados, contribuindo para evitar 2.789 kg de emissões de carbono, de acordo com um artigo da TTG MICE.
Benjamin Lephilibert, CEO da LightBlue e cofundador da The Pledge on Food Waste, tem estado a trabalhar com a ICCA na implementação da Zero Food Waste to Landfill Event Certification, que combina medidas preventivas e formas de redistribuição alimentar, “para garantir que os alimentos não consumidos e seguros sejam realmente doados a instituições de caridade locais” – no Porto, esse trabalho foi realizado com a Refood. Ao mesmo tempo, “asseguramos que todo o fluxo de resíduos seja o mais limpo possível, para que os resíduos orgânicos que sobram sejam, de facto, transformados”.
Lephilibert com Luís Pedro Martins e Mariana Sousa Pavão, do Porto e Norte, e Artur Junqueira, do Grupo Ibersol
Segundo Benjamin Lephilibert, um evento deste tipo, com tantos dias, muitos participantes e em diferentes venues traz desafios, porque a comida é preparada ou servida em múltiplas ocasiões ao mesmo tempo. Explica ainda que o aspeto mais importante é o contacto com a comunidade e com os players locais que vão estar a recolher a comida, como faz a Refood, e/ou, dependendo de onde se está, identificar as formas ou as organizações certas que podem recolher o desperdício orgânico para garantir que o vão transformar, tratando-os corretamente e aproveitando-os para nutrir o solo.
Para Pedro Machado, secretário de Estado do Turismo, é necessário que o país tenha a capacidade de surpreender e isso passa pela diversificação da experiência e da singularidade dos territórios. “Portugal tem hoje uma estratégia nacional na captação de grandes eventos, que possam diversificar a sua própria ocorrência no território nacional”, afirmou. “Isso significa que conseguimos, nessa estratégia nacional da captação dos grandes eventos internacionais, diversificar território e, simultaneamente, diversificar também produto.”
O secretário de Estado do Turismo afirmou que o grande objetivo é ter um “Portugal inteiro” – “queremos um país a ter a vantagem económica, social e cultural de estar apto a receber os grandes eventos em qualquer uma das suas regiões” – e que é importante que todo o país “conte para a soma daquilo que vai ser, seguramente, 2025: um ano extraordinário, que vai superar todas aquelas que eram as cifras que nós conhecíamos até hoje; vai ser responsável por mais de 30 milhões [de turistas] e por mais de 30 mil milhões de euros de receitas”.
Reunião formal dos responsáveis da ICCA, do Turismo de Portugal e do Porto e Norte com o secretário de Estado do Turismo
2025 foi também um ano de grandes conquistas para a região do Porto e Norte de Portugal. Explicando que, na organização do Congresso da ICCA, todos os stakeholders entenderam a importância de receber e organizar com sucesso um evento como este, Luís Pedro Martins lembrou que “não haverá tão cedo uma oportunidade destas de impactarmos em tão poucos dias tanta gente, o que nos vai permitir, obviamente, crescer”.
“A expectativa é que haja um crescimento entre 25% a 30% no número de eventos realizados no destino que recebe o Congresso. Por isso foi, de facto, um marco para a vida do Porto e Norte”, afirmou.
O Congresso da ICCA não só aconteceu numa altura em que o Turismo do Porto e Norte está a celebrar 30 anos de atividade, como também encerra um ano “que dificilmente conseguiremos ultrapassar”. 2025 tem um saldo bastante positivo, com a realização da Gala Michelin ou da Ocean Race, além de todos os outros eventos ao longo do ano.
Esta edição do Congresso da ICCA deixa ao Porto e à região Norte mais do que um balanço positivo, deixa um legado reputacional, estratégico e estrutural. Mostrou ao mundo que o destino é:
inovador, capaz de acolher formatos pioneiros e diferenciadores;
colaborativo, mobilizando parceiros públicos, privados e comunitários;
sustentável, comprometido com práticas responsáveis;
criativo, capaz de se reinventar e inspirar;
global, preparado para receber e influenciar as grandes conversas mundiais.
O Porto não apenas recebeu o Congresso Mundial da ICCA: redefiniu a forma de o viver e posicionou-se de forma inequívoca no centro do mapa global da Meetings Industry.